FOGUEIRA
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Tinha um guarda-roupa muito velho no meu quarto.
Nele eu guardava o oceano,
imenso e gelado,
à espera de alguém que o quisesse explorar.
Explorar?
Como explorar o que se tem medo?
Como enfrentar o monstro do passado que mora lá no fundo,
sem perder tudo o que se conquistou até aqui?
Foi aí que num estalo,
como um raio no céu que não se deixa passar despercebido,
ou o arco-íris que depois da tempestade, sempre nos lembra de uma promessa,
Tive a brilhante idéia de fazer uma fogueira!
De cabeça no oceano, fiquei surpreso do que vi!
Pessoas, lugares, erros e acertos.
Orgulho e arrependimento se misturam,
pois no fim, são apenas lembranças...
Lembranças de pessoas próximas.
De novos amigos que há muito tempo não vejo
e de velhos amigos que nunca me deixam esquecê-los.
Me lembro de cada um deles com ternura.
Enquanto o fogo queima cartas,
vem à minha mente os dias mais felizes que vivi,
dias que o fogo, com todo o seu calor, não pode queimar.
Ah... Como eu os queria de volta...
Em meio às cinzas, algo me chamou a atenção.
Eu não queria que ele estivesse ali, mas ele estava.
Eu o coloquei lá, fez parte de páginas da minha vida que eu queria apagar.
Ah... Se eu pudesse apagar...
Nesse momento, a vergonha encheu meu coração,
tem coisas ali que me perseguem até hoje e até o meu amigo mais íntimo não faz idéia.
Afinal, como compartilhar e esperar que alguém entenda, algo que nem eu mesmo entendo?
Talvez me ajudassem, talvez tivessem pena. Não sei...
Queria que o fogo levasse tudo isso embora,
queria que fosse fácil...
Mas não tem mais jeito, nada vai mudar.
O tempo não passa para algumas coisas.
Palavras ao vento não voltam atrás,
atitudes impensadas causam grande arrependimento,
mas em meio a tudo isso sempre existe um sorriso.
Só um sorriso me trouxe de volta à realidade.
O oceano estava em chamas,
não havia mais o que queimar.
Foi aí que percebi, que o oceano não significava nada,
Porquê as lembranças, estas, eu não consegui queimar.
Em minhas lembranças existem coisas boas e ruins,
orgulho e arrependimento,
mas não há espaço para tristeza,
porque eu sei que tudo o que eu fiz de bom ou ruim,
contribuiu para formar o que eu sou hoje.
Marcadores: Contos do Agarius
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